A indústria têxtil é conhecida pelo seu impacto significativo no ambiente, desde o consumo excessivo de recursos naturais até a poluição gerada. Todos os anos, este setor cerca de 8% dos gases com efeito de estufa a nível mundial, utiliza o equivalente a 86 milhões de piscinas olímpicas de recursos hídricos naturais e é responsável por 9% da poluição por microplásticos nos oceanos, provenientes de fibras sintéticas presentes em roupas e tecidos. Por outro lado, e de acordo com a organização Internacional Global Fashion, nos últimos anos, foram descartadas mais de 90 milhões de toneladas de resíduos têxteis, e a projeção para os próximos oito anos é que esse número alcance 140 milhões de toneladas.
No entanto, nos últimos anos, houve uma crescente consciencialização dos vários atores deste setor e foram feitos esforços consideráveis para tornar esta indústria mais sustentável. Face a este impacto negativo no ambiente, a indústria têxtil já despertou para a necessidade urgente de reduzir a sua pegada ambiental. Este desafio da sustentabilidade na indústria têxtil exige ação global e requer esforços coordenados de toda a sociedade.
Segundo o relatório publicado pela ONU – Programa para o ambiente “Sustentabilidade e circularidade na cadeia de valor dos têxteis: Um roteiro global” existem três prioridades a serem implementadas no setor têxtil:
1. Alteração dos padrões de consumo;
2. Melhoria das práticas; e
3. Investimento em infra-estruturas.
Há uma tendência crescente na utilização de materiais mais sustentáveis, nomeadamente de fibras orgânicas, como algodão orgânico, bambu, cânhamo e materiais reciclados, reduzindo-se, assim, a dependência de recursos não renováveis.
Para além da seleção de matéria-prima mais sustentável, também a aposta na inovação e design sustentável têm contribuído para a adaptação deste setor à crise climática. O desenvolvimento de produtos e processos mais sustentáveis, desde a conceção até a produção, está a ganhar espaço na indústria, incluindo o design de moda circular, que visa prolongar a vida útil das roupas e reduzir o desperdício.
Por outro lado, muitas empresas desta indústria têm envidado esforços no sentido de aumentar a eficiência na utilização de recursos, adotando tecnologias mais eficientes em termos de consumo de água e energia, além de práticas de gestão de resíduos para minimizar o impacto ambiental.
A sustentabilidade é uma tendência crescente do mercado, e a sociedade exige que sejam tomadas medidas de forma a garantir a continuidade das gerações futuras. A indústria tem ao seu dispor diversas ferramentas que permitem melhorar práticas e comunicar, com confiança, este compromisso para diminuir o impacto negativo da sua atividade.
Embora não seja específica para têxteis, a certificação de gestão ambiental, ISO 14001, é frequentemente utilizada por empresas do setor para demonstrar compromisso com práticas sustentáveis.
No que respeita à seleção de materiais, existem algumas certificações que asseguram a sua proveniência responsável.
A certificação GOTS (Global Organic Textile Standard): garante a produção de têxteis fabricados com, pelo menos 70% de fibras naturais orgânicas cer¬tificadas, e estabelece critérios rígidos para toda a cadeia de abastecimento, desde a colheita da matéria-prima até o produto final, abrangendo o processa¬mento, fabricação, embalagem, rotulagem, comercialização e distribuição. As marcas estão a ser cada vez mais pressionadas para assegurar que as alegações que fazem podem ser verificadas para responder à exigência do consumidor por produtos de elevada qualidade, produzidos sob condições de trabalho justas e seguras. Os critérios Ambientais, Sociais e de Governança do GOTS refletem riscos específicos da cadeia de aprovisionamento têxtil e foram pensados para permitir diligências eficazes nas empresas certificadas. Atualmente são quase 10 mil as empresas certificadas em todo o mundo, e 486 em Portugal.
Por sua vez, a Textile Exchange é uma referência crucial quando se trata de promover práticas sustentáveis na indústria têxtil, e afirma que cerca de 24% da pegada de carbono da indústria da moda provém das matérias-primas. A norma Textile Exchange oferece orientações e padrões reconhecidos internacionalmente para promover a produção responsável de têxteis. A adesão às normas e certificações da Textile Exchange demonstra o compromisso das empresas em adotar práticas mais sustentáveis, garantindo maior confiança aos consumidores e partes interessadas quanto à origem e ao impacto ambiental dos produtos têxteis.
A escolha de fibras naturais provenientes de florestas geridas de maneira sustentável para o fabrico de têxteis tem aumentado ao longo dos últimos anos. Rayon, viscose, modal ou liocel são cada vez mais usados na indústria da moda. Estas fibras de celulose, quando certificadas, são uma opção mais ecológica do que fibras sintéticas, como nylon ou poliéster, ou mesmo fibras naturais, como o algodão, mas ainda constituem menos de sete por cento do mercado global de fibras.
A inclusão de fibras naturais provenientes de florestas certificadas FSC® (A000537) ou PEFC na produção têxtil destaca o compromisso das empresas em utilizar recursos naturais de maneira consciente e sustentável, provenientes de fontes sustentáveis, contribuindo para a preservação das florestas e oferecendo aos consumidores a garantia de que os produtos têxteis estão alinhados com princípios ambientalmente responsáveis.
Estas certificações desempenham um papel crucial na validação das ações sustentáveis das empresas têxteis, ajudando a garantir transparência e confiança tanto para os consumidores como para os stakeholders.
A consciencialização sobre o impacto da indústria têxtil está a impulsionar uma mudança significativa em direção a práticas mais sustentáveis. No entanto, o caminho para uma indústria completamente sustentável ainda é um desafio, exigindo uma colaboração contínua entre empresas, governos, organizações e consumidores para alcançar esse objetivo.