Decorrente do compromisso de abordar o tema das alterações climáticas, como referido na Declaração de Londres da ISO – International Organization for Standardization, a ISO e o IAF – International Accreditation Forum, realizaram uma alteração ao capítulo 4 da Estrutura Harmonizada (Apêndice 2 do Anexo SL nas Diretivas ISO/IEC Parte 1 Suplemento ISO consolidado). Pode aceder aqui para mais informação.
A norma ISO 22000 - Sistema de Gestão da Segurança Alimentar é uma das várias normas abrangidas por esta alteração.
O que deve ser considerado num Sistema de Gestão da Segurança Alimentar de acordo com a norma ISO 22000?
Não existe uma abordagem padronizada para as considerações a ter sobre alterações climáticas num sistema de gestão da segurança alimentar (SGSA), de acordo com a norma ISO 22000. No entanto, partilhamos como referência, parte do texto retirado de um White Paper desenvolvido pelos parceiros da IQNET Association, da qual a APCER faz parte em representação de Portugal.
Estas considerações não são suficientes por si só nem consideradas completas, são apenas identificadas como as mais prováveis de serem analisadas pelas organizações:
Impacto na produção alimentar e na cadeia de fornecimento: As alterações climáticas podem alterar as condições agrícolas, afetando a disponibilidade e a qualidade das matérias-primas. As alterações nos padrões de temperatura e precipitação podem levar a quebras de colheitas ou a uma maior prevalência de pragas e doenças, afetando a segurança e a qualidade dos produtos alimentares.
Aumento do risco de contaminação dos alimentos: O aumento das temperaturas e as alterações na humidade podem criar ambientes mais propícios ao crescimento de agentes patogénicos e à produção de toxinas. Isto aumenta o risco de doenças de origem alimentar, tornando mais difícil uma gestão eficaz da segurança alimentar.
Escassez e qualidade da água: As alterações climáticas podem levar à escassez de água e afetar a sua qualidade. Uma vez que a água é um ingrediente crítico em muitos produtos alimentares, e um recurso fundamental nos processos de limpeza e higienização na produção alimentar, o comprometimento da qualidade da água pode representar riscos significativos para a segurança alimentar.
Alteração das condições de armazenamento e transporte: As alterações nas condições climáticas podem afetar a eficiência e a segurança do armazenamento e transporte de alimentos. O aumento das temperaturas, por exemplo, pode comprometer a cadeia de frio, levando a uma deterioração mais rápida e ao crescimento de bactérias nocivas.
Novos perigos para a segurança alimentar: As alterações climáticas podem levar ao aparecimento de novos perigos para a segurança alimentar ou alterar o padrão dos perigos existentes. As organizações certificadas precisam de identificar, avaliar e controlar eficazmente estes riscos emergentes.
Desafios regulamentares e de conformidade: À medida que os impactos das alterações climáticas se tornam mais pronunciados, os regulamentos que regem a segurança alimentar podem evoluir. A adaptação a estas alterações regulamentares é essencial para a conformidade e para evitar potenciais problemas legais e reputacionais.
Maior monitorização e rastreabilidade: Com o aumento da complexidade dos riscos de segurança alimentar devido às alterações climáticas, a necessidade de sistemas robustos de monitorização e rastreabilidade no âmbito do SGSA aumenta, com o objetivo de garantir uma resposta rápida a incidentes de segurança alimentar.
Nota: as medidas adotadas para fazer face às alterações climáticas podem eventualmente constituir um risco para a segurança dos alimentos. Ver aqui.
Outras considerações sobre Alterações Climáticas que todas as organizações certificadas pelas normas de sistemas de gestão abrangidas por esta emenda devem analisar
As organizações certificadas, independentemente do setor de atividade onde atuam e do tipo e âmbito do sistema de gestão, podem necessitar de rever e adaptar outros processos e considerar outras questões, de modo a melhor abordar e acomodar as mudanças no contexto, a evolução dos requisitos e as necessidades das partes interessadas, bem como os novos riscos decorrentes das alterações climáticas.
Formação e sensibilização: O enfoque e as práticas de gestão eficazes, no contexto das alterações climáticas, requerem pessoas informadas e conscientes. As organizações certificadas podem ter de incluir programas de formação que transmitam, aos seus colaboradores, os desafios e mudanças relacionados com o clima, assegurando que compreendem a natureza evolutiva dos riscos relacionados e as suas responsabilidades.
Envolvimento e comunicação com as partes interessadas: O envolvimento com as partes interessadas em questões de conformidade relacionadas com o clima é crucial. As organizações certificadas devem facilitar a comunicação e o envolvimento com as partes interessadas, incluindo investidores, clientes, organismos reguladores e a comunidade, sobre a forma como a organização aborda as questões de conformidade relacionadas com o clima.
Monitorização e melhoria contínua: Tendo em vista a natureza dinâmica das mudanças climáticas e dos seus impactos, as organizações certificadas devem ser capazes de monitorizar e melhorar continuamente. Tal garante que a organização possa adaptar as suas estratégias em resposta a novas informações, regulamentações e melhores práticas relacionadas com as mudanças climáticas.
Soluções inovadoras para uma maior resiliência: As organizações poderão ter de investir em soluções inovadoras para reforçar a resiliência face aos desafios e riscos induzidos pelo clima, e contribuir desta forma para um melhor desempenho e eficácia.
Planeamento estratégico a longo prazo: As organizações devem ter em conta as tendências e questões contextuais a longo prazo, incluindo as relacionadas com as alterações climáticas. Isto permite um planeamento estratégico que se alinha com os objetivos globais de sustentabilidade e com os esforços de mitigação das alterações climáticas.
Reputação e valor da marca: As organizações que não abordam os riscos das alterações climáticas ou que não adotam práticas sustentáveis podem sofrer em termos de reputação e valor da marca, uma vez que os consumidores e os investidores valorizam cada vez mais a sustentabilidade. Para algumas organizações, a perceção pública também pode ser crítica. As que não tomarem medidas adequadas para combater ou se adaptarem às alterações climáticas podem sofrer danos na sua reputação, o que pode ter um impacto direto na fidelidade dos clientes e no valor da marca.
Seguro e gestão de riscos: O aumento da frequência e da gravidade dos fenómenos meteorológicos pode conduzir a prémios de seguro mais elevados. Para as organizações com ativos físicos significativos, ou para as que operam em zonas de alto risco, isto pode representar um encargo financeiro substancial.
Identificação de novas oportunidades: As organizações podem também procurar oportunidades decorrentes da transição para uma economia mais ecológica, como o desenvolvimento de novos produtos ou serviços, melhorias de eficiência e o acesso a novos mercados.